Ciber cultura : Auto dataficação coletiva.
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Ciber cultura: Auto dataficação coletiva.
A partir da década de 1970 com o surgimento
da internet e sua futura disponibilização e ampliação de uso nas décadas seguintes,
assim como os processos de aperfeiçoamento da rede global diretamente
relacionada com o processo de globalização da economia houve um crescimento
exponencial dos bancos de dados digitais, tanto relacionados a empresas
privadas quanto a governos e projetos de estado.
Anteriormente, com os adventos dos livros, rádio,
cinema e televisão. Surgindo cada um em determinado momento situado histórico e
geograficamente, houve transformações, por vezes alavancadas, agenciadas e ou potencializadas
e por uso dos mesmos, sempre havendo intencionalidades vinculados aos seus usos
e acessos.
Cada um desses elementos da comunicação por
sua vez trazia informações ao seu interlocutor, seja por meio de leituras, imagens,
sons, voz, sons e imagens. Contudo a internet permitiu algo inovador nos
processos de comunicação, a chamada liberação da emissão, a partir dai foi
possível ampliar a interação entre produtor de conteúdos e leitores, por vezes havendo
leitores e críticos que não obstante produzem e são lidos (Lemos, 2010).
A cultura
da leitura e da escrita segundo Lemos torna-se massiva, a ciber cultura traz
consigo a possibilidade de produzir e consumir ao mesmo tempo, não havendo
portanto a necessidade de requerer autorizações para falar livremente,
conectar-se e associar-se com diferentes indivíduos em diferentes partes do
mundo, sobretudo a partir dos anos 1990 com a linguagem dos blogs e internet, e
posteriormente na década de 2000 com o aparecimento dos fotoblogs, micro blogs,
redes sociais, Smartphone, aplicativos de mensagens e vídeos dentre
outros.
Na primeira e segunda décadas do século XXI, os
diversos e potentes usos das tecnologias de informação e comunicação trazem
consigo questões ligadas a regulamentações no ambiente em rede ou falta dela, alteração
na percepção do uso do tempo e noção de distancias geográficas assim como a
precarização das relações trabalhistas, e objetificação e exploração dos corpos
passam a fazer parte das discussões relacionadas ao uso da rede.
Os jovens nascidos sobre a égide do pujante ambiente
da ciber cultura já em sua maioria imersos nela são considerados nativos
digitais, já que tiveram contato com a mesma desde sempre, não sendo incomum a recorrência
de pais que documentam a história de seus filhos muito antes do nascimento dos
mesmos. Dados, muitos dados são gerados, fotografias da mãe gestante, imagens
de exames de ultrassonografia uploadadas nas mais diversas redes sociais,
filmagens do parto, detalhes precisos sobre os primeiros meses e anos de vida
dos bebês, incluindo até mesmo localizações precisas fornecidas por meio da global
positioning system (GPS).
Mas para onde vão esses dados, quem tem acesso
a estes, quem os controla? A maioria das pessoas de forma geral não se
questiona sobre o assunto, quando o fazem costumam imaginar que os dados estão
ou vão para o mundo imaterial, as nuvens a nuvem, mas onde está essa nuvem? “A
nuvem não está na nuvem, está em um data center na California. Consumindo
água, petróleo e carvão”, “...a materialidade do dado não é ima coisa abstrata”
(Lemos, 2020).
Constantemente, a cada postagem, publicação
em redes sociais, fotográficas etiquetadas, uso de aplicativos de paquera
dentre outros que registram a localização de seus usuários fazendo uso do GPS,
diversas informações são geradas, armazenadas, codificadas e decodificadas
gerando dados que podem ser utilizados nos processos que segundo o Professor
Doutor André Lemos são chamados de platamorfização, dataficação, e performatividade
algorítmica (PDPA). Esses processos de maneira geral permitem o uso e armazenamento
de dados em uma data base sendo convertido em algoritmos e aperfeiçoamento dos
mesmos, incluindo informações a respeito dos comportamentos humanos,
preferências, inclinações políticas, extrato social até mesmo orientação sexual
de seus usuários, tais informações possibilitam maior lucro e rentabilidade às
chamadas economias de plataforma.
As tecnologias em si, não possui caráter benéfico
ou maléfico, elas permitem diversas possibilidades, seu uso por outro lado pode
e costuma ser agenciado por grupos que detêm poder sobre seus usos. Ao longo
das leituras e estudos sobre o tema algo saltou aos olhos, surgindo
recorrentemente aos pensamentos, os protestos contra o governo em Hong Kong, guarda-chuvas
eram o grande símbolo dos protestos, incialmente foram utilizados em 2014 por grupos
para a defesa contra-ataques com armas de gás lacrimogêneos e bombas de feito
moral por parte da força policial. Em um segundo momento, no ano de 2020 os guarda-chuvas,
e canetas lazer eram utilizadas pelos manifestantes para se protegerem contra
prisões arbitrarias realizadas com base no reconhecimento fácil via softwares e
câmeras de vigilância e drones presentes de forma vasta pela capital (BOVO e
MARQUES 2020)
Sendo
assim é importante ressaltar que os avanços tecnológicos cada vez mais velozes,
oferecem diferentes situações e possibilidades, cabe a sociedade como um todo estar
atenta aos marcos regulatórios, leis, decisões jurídicas e usos da internet, imagem,
e regime de datificação aos quais estamos diariamente submetidos e por vezes
fornecendo dados de maneira não compulsória.
Bibliografias Consultadas:
LEMOS, André. Debate: Educar
na cultura digital: O que é ciber cultura. 2010. Bienal de São Paulo.
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=hCFXsKeIs0w>. Acesso em: 21
mar. 2021.
LEMOS, André. Entrevista
Tecnopolítica #39: As transformações do digital e a política das coisas 2020.
Podcast Tecnopolítica.
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=byJVWCtBazg&t=2s>. Acesso em: 21
mar. 2021.
BOVO, Cassiano e MARQUES,
Matheus: O que podemos aprender com as manifestações de Hong Kong?. 2020. Disponível em:
<https://www.justificando.com/2020/04/21/o-que-podemos-aprender-com-as-manifestacoes-de-hong-kong/>
Acesso em: 21 mar. 2021.
2 comentários
Oi Rafael, importante trazer a questão dos marcos regulatórios para o uso das redes. Este é um tema polêmico, pois envolve questões que vão da vigilância ao direito à comunicação, do poder dos grandes grupos que controlam as plataformas ao poder dos estados nacionais, dos interesses do sistema capitalista aos interesses sociais e coletivos... Construir um marco regulatório que equilibre todos os interesses em disputa é um desafio que está na mesa hoje e que precisa ser encarado. Caso contrário, todo poder ficará na mão dos grandes conglomerados...
ResponderExcluirOlá, Rafael. Me chama atenção, e prontamente o convido para refletirmos juntos, sobre o processo de produção no digital. Por vezes, tivemos uma construção histórica marcada pela aprendizagem voltada as recepções, sempre na perspectiva passiva da Educação, valorizando a dimensão técnica e suas consequências. Essa realidade, infelizmente, ainda perdura, apesar dos esforços enquanto nós, educadores, em repensarmos a condução das nossas aulas e as construímos. Com o advento do digital, a condição de criador e receptor se estreita, cabendo a nós (professores e professoras), apresentandos todos os caminhos possíveis para o aprendizado crítico e reflexivo.
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